Olá mundo! Eu sou a Louise Suelen, faço questão de escrever esse texto em primeira pessoa, porque quero abrir meu coração. Quero compartilhar com vocês como o projeto nasceu, pois ele é uma ideia que surgiu da dor e não de um sonho.
Quem sou eu?
Eu sou uma pessoa muito apaixonada por educação, ciência e tecnologia, em especial o ensino de ciências exatas e tecnológicas para pessoas com deficiência e outras necessidades educacionais específicas. Eu trabalho com desenvolvimento de software, atualmente no grupo Globo, mas já trabalhei no Itaú Unibanco, Pipefy e NTT Data.
De acadêmico eu fiz o curso técnico integrado em Informática, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia – IFBA no campus da minha cidade, Barreiras. Foi lá, no IFBA, que eu aprendi a programar, mas essa não é uma história de amor à primeira vista, pelo contrário, foi ódio à primeira vista. Vou contar essa história algum dia.
Depois do IFBA, eu cursei dois semestres da faculdade de Psicologia e já foi o suficiente para eu entender que não era para mim. Então, voltei para a área de tecnologia e fui fazer o bacharelado em Ciência da Computação pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), concluí? Não! E essa é outra história que vou contar algum dia.
O meu diploma de bacharelado em Ciência da Computação veio pela Universidade de Salvador (UNIFACS), onde cursei o mesmo bacharelado em Ciência da Computação, a partir de 2020 e me formei.
Na vida pessoal eu sou casada com a Vitória, ela também é uma mulher cega, e nós temos dois cachorrinhos, Amora uma Fox Paulistinha e Amendoim um Labrador. No mais, eu sou um projeto mal-acabado de escritora, gosto de nerdices, de ciência e de muito cuscuz com café.
Por que criei o projeto PcD na Escola?
Agora “centa que lá vem história” e como disse anteriormente, de dor, não de sonho.
O PcD na Escola já teve outros nomes, já foi def.ciência, já foi deficiencia.org, até que em 2022 decidi escolher um nome que fosse mais próximo do que eu queria fazer, que fossem em português para todo mundo entender o que significa e que fosse fácil de lembrar. Então, PcD na Escola é o nome que escolhi para o projeto.
Mas, como que essa ideia começou a nascer na minha cabeça? Bom, em 2020 quando começou a pandemia de COVID eu estava na casa da minha avó em Barreiras, sem saber quando seria o retorno as aulas. Nesse momento eu estava fazendo o bacharelado em Ciência da Computação na UESC e o semestre anterior tinha terminado com atraso, eu estava em casa de férias.
Depois de um tempo com as aulas suspensas, seguindo a tendência de outras instituições a UESC retornou as aulas no regime remoto. Aí começou a desgraça, tive meus problemas pessoais? Tive sim, estudar em casa com a família é a mesma coisa de ter seu próprio espaço? Não. Essa é a parte que eu posso dizer que foi igual para mim e para todos os estudantes, e que, não raramente as pessoas me lembram e eu sei.
Agora, em que isso tem a ver com a logística de acessibilidade nas aulas remotas? Vamos supor que minha conduta seja ruim, fora da curva até mesmo para um estudante desinteressado (que não sou, mas simulemos), em que isso tem a ver com a acessibilidade no remoto? NADA. Eu poderia ser a pior estudante da história da UESC que ainda assim isso não tem nada a ver com acessibilidade nas aulas remotas.
Nesse primeiro semestre remoto em 2020.1 eu peguei as disciplinas:
- Lógica Digital II
- Organização e Recuperação da Informação
- Cálculo Aplicado II
- Administração para Computação
A acessibilidade nas aulas remotas era um caos, com direito a professora dizendo que “não era a hora disso” e dando ponto extra para os colegas que fizessem o trabalho dela em me dar aula. Juntei isso, com as dificuldades pessoais que estava tendo de estudar e tranquei todas as disciplinas.
Com o apoio das meninas do núcleo de acessibilidade, que estavam fazendo a ponte e tentando conscientizar os professores sobre a acessibilidade nas aulas remotas, eu voltei a me matricular. Peguei as disciplinas:
- Álgebra Abstrata
- Organização e Recuperação da Informação
- Projeto e Análise de Algoritmos
- Administração para Computação
O cenário não mudou muito, mas voltei a ter problemas com uma professora que não queria dar aula de uma maneira mais acessível, descrevendo as coisas ao invés de só dizer “aqui”, “ali”, “em cima”, “embaixo”. Foi necessária a intervenção do núcleo de acessibilidade para que ela pudesse ser um pouco mais acessível, até que funcionou, ficou “um pouco melhor”, mas ainda assim não era o ideal.
A grande merda
Pedi uma conversa com o coordenador do curso, queria a ajuda dele para que ele pudesse ser mais próximo do núcleo de acessibilidade e ajudar o pessoal lá na mediação com os professores. Outros coordenadores anteriores do curso mantinham uma relação mais próxima com o núcleo de acessibilidade, mas esse não.
A resposta que obtive foi:
“[…] Olha, eu compreendo a sua situação, mas neste momento nós temos muitos problemas, acessibilidade não dá para ser prioridade. Mas, depois eu posso tentar conversar com você sobre isso.”
Existiam duas “mentiras” nessa resposta, a primeira é dizer que compreendia minha situação, porque não compreendia e a segunda é dizer que existiria um “depois” para conversar comigo porque isso nunca aconteceu. Foi a partir dessa experiência que eu escrevi o texto sobre deficiência feito por pessoa com deficiência dentro do artigo “Deficiência: o que significa?”, que se tornou o primeiro artigo que eu escrevi para o site antes mesmo do site existir.
Daí por diante tudo desandou na minha cabeça, abandonei quase todas as matérias que estava cursando, menos a que tive problemas com a professora, pois meu pior medo era ser aluna dela outra vez. Essa foi a única disciplina que passei, o restante nem sequer tranquei, simplesmente abandonei.
Depois da merda
Depois de tudo isso, eu tinha um labrador caramelo de 11 anos, o Bob, ele adoeceu gravemente e eu comecei a pegar qualquer trabalho que aparecesse para cuidar dele, algumas das coisas que fiz foram:
- Revisar textos acadêmicos para outros estudantes com e sem deficiência
- Dar suporte para outras pessoas cegas que estavam com dificuldades nos seus ambientes remotos de aula, o que eu não conseguia fazer para mim mesma, mas conseguia fazer para pessoas que cursavam Direito, Psicologia e outros cursos que não eram tão matematizados e visuais quanto o meu.
- Fiz listas de exercícios de lógica de programação para várias pessoas.
- Fiz listas de exercícios de matemática para várias pessoas.
Me virei como pude, mas infelizmente em Setembro de 2020 o Bob faleceu e eu fiquei muito mal, foi um período muito difícil para mim, eu tentei ocupar minha cabeça com outras coisas, não dava para sair de casa, mas poderia tentar estudar alguma coisa.
Foi nessa época que comecei o bacharelado em Ciência da Computação na UNIFACS, convalidei as disciplinas que já tinha feito na UESC e comecei a estudar de novo.
Paralelo a isso, conheci uma associação de pessoas com deficiência visual de São Paulo, a ADEVA - Associação de deficientes visuais e amigos, que estava promovendo um curso de capacitação em assessibilidade digital. O curso geralmente era presencial, em São Paulo e eu nunca conseguiria ter feito em circunstâncias normais, mas com a pandemia o curso foi ofertado remotamente e eu me inscrevi através do convite de uma amiga que ia fazer também.
O curso além de maravilhoso, foi um divisor de águas na minha vida, pois através dele eu consegui meu primeiro emprego na área de tecnologia, como Analista de Qualidade em Acessibilidade Digital na NTT Data. Sou grata a ADEVA pela oportunidade que, tenho certeza, não conseguiria de outra forma.
Na NTT Data eu trabalhava com testes de acessibilidade digital, seguindo os padrões WCAG e realizando auditorias em sites e aplicativos para garantir que fossem acessíveis a pessoas com deficiência. Eu estava alocada no Itaú Unibanco, fazendo testes de acessibilidade nas plataformas de crédito imobiliário de lá, e foi lá que conheci diversas outras pessoas com deficiência visual.
Depois de um tempo me ofereceram a oportunidade de participar de um programa interno de formação em desenvolvimento de software, na época com Java, e eu aceitei. Assim, migrei da área de qualidade para a área de desenvolvimento, onde trabalhei com Java até receber a proposta da Pipefy onde fui trabalhar com Ruby on Rails.
Percepções
Durante o tempo que estive na NTT Data, tive contato com muitas pessoas com deficiência, em sua maioria pessoas cegas, pude observar um padrão de dificuldades com a vida acadêmica, principalmente em cursos de exatas e tecnológicas. Assim como eu, muita gente largou os cursos na pandemia e por questões que envolviam a acessibilidade que implicaram em questões emocionais e abalos na saúde mental.
Tanto na NTT Data, quanto no próprio Itaú Unibanco, existem muitas pessoas cegas e com baixa visão trabalhando, se contar todas as consultorias são centenas de pessoas com deficiência visual. Essas pessoas possuem diferentes origens, diferentes histórias, diferentes formações, mas todas elas possuem algo em comum: a dificuldade de estudar e aprender ciências exatas e tecnológicas.
Tive a oportunidade de conversar e trocar experiências com várias e várias pessoas que, assim como eu, relatam que essas dificuldades começaram na vida acadêmica desde a infância, com a falta de materiais adaptados. Dificuldades com a matemática, com a física, com a química, com a programação e outras disciplinas que envolvem raciocínio lógico e abstração de conceitos são comuns e assim como eu todo mundo pensava que não estava “se esforçando o suficiente” ou que “essas disciplinas não eram para elas”.
O que a maioria fez foi seguir por caminhos mais distantes dessas áreas, se “esquivando” o máximo possível. Mesmo quem optou por seguir na área de tecnologia escolheu cursos tecnólogos, ou bacharelados menos matematizados que Ciência da Computação, como Sistemas de Informação, Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Engenharia de Software e outros para não entrar em contato com um algebrismo mais avançado, com cálculo, com física e outras disciplinas semelhantes.
Dentre todas as pessoas que conversei, dois “sobreviventes” me marcaram muito, pois são pessoas que conseguiram concluir suas graduações super matematizadas, em universidades públicas e com louvor. O primeiro é o famosíssimo Lucas Radaelli que é bacharel em Ciência da Computação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), além disso, ele é famoso por ser o primeiro programador cego a trabalhar no Google de quem se tem notícia. Ele participou de um Nerdcast, que repercutiu bastante a muitos anos atrás, que foi onde ouvi falar dele pela primeira vez.
A segunda pessoa é a Katia Marques que ocupa um cargo de coordenação no Itaú Unibanco e que “simplesmente” conseguiu concluir o curso de Matemática da Universidade de São Paulo (USP), além disso, ela tem mestrado em Estatística e Probabilidade também pelo IME-USP. Os dois são minorias entre as pessoas com deficiência visual, pois conseguiram concluir cursos extremamente difíceis, matematizados ao máximo, onde a visão é um fator de exclusão, pois é usada como instrumento de garantia para a fidedignidade semântica de muitos conceitos.
Os dois sofreram muito, passaram por muitas dificuldades e contaram com muito suporte de amigos para conseguirem chegar lá, certa vez li no blog do Lucas um trecho que dizia:
“As matérias de humanas eu conseguia dar conta de estudar tranquilamente, mas as exatas eu sempre precisava da ajuda de alguém. Não é que eu não entendesse; Na verdade, eu ia super bem em matemática, física e química, mas é que eu não conseguia ler as fórmulas, analisar os gráficos e absorver o conteúdo em geral sem alguém lendo aquilo para mim.”
Me identifiquei muito com esse trecho, tirando a parte de “ir super bem”, porque eu não ia super bem, na verdade eu ia muito mal, mas o resto é exatamente como eu me sentia. No ensino médio eu tinha mais esse apoio de amigos, mas na faculdade não, até porque minhas turmas eram absolutamente variadas, cada disciplina tinha uma turma diferente e eu não conseguia me aproximar de ninguém, então acabei ficando sozinha.
A partir das histórias que ouvi e das experiências que compartilhei, percebi que minhas dificuldades eram comuns a muitas outras pessoas com deficiência visual, e que essas dificuldades não eram por falta de esforço ou dedicação, mas sim pela falta de materiais adaptados e de metodologias de ensino inclusivas. A Katia e o Lucas são na realidade sobreviventes, são os sobreviventes que eu gostaria de ser, mas que não consegui, e isso me dói muito.
A ideia do projeto
Gosto muito de estudar ciências exatas e tecnológicas, mas só de pensar em aprender alguma coisa nova, já fico com medo de não conseguir aprender, de não entender, de não conseguir acompanhar. Na minha cabeça vem os seguintes pensamentos:
- “Será que vou achar material que o leitor de telas consiga ler?”
- “Pqp! Vou ter que pedir alguma ajuda para alguém ler isso para mim?”
- “Muito rolê! Teria que ter os livros, os materiais todos adaptados.”
- “Este site, essas referências e esses códigos são uma merda! O NVDA não consegue ler isso!”
- “Quem programou isso fez igual a cara!”
- “A droga desse vídeo é 100% inacessível!”
Daí me vem um sentimento de frustração, de impotência, de raiva, de tristeza e ódio tão grande que eu acabo nem tentando ou só tento quando sou estritamente obrigada a tentar. É absolutamente injusto, ninguém deveria passar por um processo tão doloroso para aprender alguma coisa, sobretudo pelo fato de ser uma pessoa com deficiência.
Eu particularmente detesto estudar em grupo, com outras pessoas, mas sempre precisei me submeter a isso, abrir mão de uma preferência pessoal por uma necessidade de aprendizagem, para ter “ajuda” de alguém que lia os materiais para mim, ou adaptava os materiais para mim. Na minha humilde opinião, isso deveria ser uma escolha pessoal, não uma pré-condição para conseguir consumir determinados tipos de materiais para aprender determinados conteúdos.
Aí nós entramos no debate do “núcleo de acessibilidade e salas de recursos multifuncionais terem a função de prover essa interface entre a pessoa com deficiência e o conteúdo de forma acessível”, mas esse é o cenário ideal, não necessariamente o cenário real. O que acontece é que muitas vezes esses núcleos não existem, ou não possuem profissionais capacitados para atender as demandas de pessoas com deficiência visual, ou ainda, não possuem recursos suficientes para adaptar os materiais necessários.
Há ainda o cenário em que esses núcleos existem, possuem profissionais capacitados, mas esses profissionais não possuem conhecimentos específicos sobre as disciplinas de exatas e tecnológicas, o que dificulta ainda mais a adaptação dos materiais. É necessária uma participação efetiva dos professores de sala de aula regular nesse processo, mas muitas vezes eles não estão dispostos a colaborar, são indiferentes ou simplesmente não podem por falta de tempo ou recursos.
Isso torna a logística de adaptação de materiais extremamente complexa e muitas vezes inviável, pois passa a depender muito de fatores humanos e subjetivos, como a “boa vontade” e repertório técnico de professores e profissionais de acessibilidade.
Então comecei a pensar algumas coisas…
- E se existisse um lugar onde os profissionais do núcleo de acessibilidade pudessem consultar a maneira apropriada de adaptar os materiais de ciências exatas e tecnológicas? Por exemplo: uma tabela de pronúncia de símbolos matemáticos, fórmulas, gráficos e outros conteúdos que são comuns nessas disciplinas. Isso colaboraria para que os profissionais de acessibilidade pudessem adaptar os materiais de forma mais eficiente e eficaz, sem depender exclusivamente da “boa vontade” dos professores em contribuir com esse processo. Se este lugar existisse, ele poderia agregar na redução de um fator variável que impacta diretamente na qualidade das adaptações dos materiais, que é a falta de conhecimento técnico dos profissionais de acessibilidade sobre as disciplinas de exatas e tecnológicas.
- E se nesse lugar houvesse também modelos de materiais adaptados que pudessem ser utilizados como referência? Isso facilitaria ainda mais o trabalho dos profissionais de acessibilidade, pois eles teriam exemplos concretos de como adaptar diferentes tipos de conteúdos, além de poderem aprender com as experiências de outros profissionais que já passaram por situações semelhantes.
- E se as pessoas com deficiência visual pudessem acessar esses materiais adaptados de forma fácil e rápida, sem precisar passar por todo o processo burocrático de solicitação de adaptações? Isso tornaria o aprendizado mais inclusivo e acessível, permitindo que as pessoas com deficiência visual pudessem estudar ciências exatas e tecnológicas de forma autônoma, sem depender exclusivamente do suporte de terceiros. Caso o suporte não exista, ou não seja suficiente, a pessoa com deficiência visual poderia ter acesso a materiais adaptados de qualidade, que poderiam ser utilizados para complementar seus estudos e auxiliar no aprendizado mesmo assim.
- E se nesse lugar eu pudesse compartilhar todos os materiais e ferramentas que eu criei para me ajudar a aprender ciências exatas e tecnológicas? Isso poderia beneficiar outras pessoas com deficiência visual que estão passando pelas mesmas dificuldades que eu passei, além de contribuir para a construção de uma comunidade de aprendizado inclusiva e colaborativa.
Então me fiz a pergunta: “E se eu criasse esse lugar? Porque eu não faria isso se eu sei programar, sei os requisitos de acessibilidade conforme a WCAG que uma plataforma deve ter, por que não?”
A estrutura do projeto
Comecei a estruturar o que eu gostaria que o projeto tivesse, fui escrevendo as ideias:
- Primeiramente eu gostaria de ter conteúdos que ensinassem a maneira correta de lidar com o software leitor de telas, como o NVDA, pois o leitor de telas é a maneira pela qual interagimos com o computador. Ele é a ponte entre nós e as informações que estão sendo apresentadas na tela, então é fundamental que saibamos como utilizá-lo da melhor forma possível.
- Queria que os conteúdos sobre leitores de tela seguissem um fluxo:
- Conhecer o que são leitores de tela e como funcionam.
- Conhecer o NVDA
- Saber como usar o NVDA no Windows
- Saber como usar o Google Chrome com o NVDA
- Para só depois desenvolver a familiaridade com programas como:
- Word ou Google Docs
- Vs Code
- E por aí vai.
- Ainda sobre leitores de tela, gostaria de repetir o processo com o Orca no Linux, Voice Over no Mac e se possível com os leitores de tela de Smartphones.
- Não há como estudar ciências exatas e tecnológicas sem ter domínio do leitor de telas, então essa seria a primeira etapa do projeto.
Só depois isso viria a ser seguido por conteúdos sobre:
- Matemática básica
- Programação
- E outras disciplinas
Pensei também em como poderia estruturar os conteúdos e decidi que o ideal seria a transversalidade, ou seja, disponibilizar os conteúdos em diferentes formatos como:
- Vídeos com audiodescrição
- Transcrições dos vídeos
- Textos em formato acessível publicados como artigos
- Imagens com descrição de imagem
- Exemplos de código acessível
- Exercícios práticos
- E outros formatos que possam ser utilizados para complementar o aprendizado.
As imagens são importantes para o aprendizado de outras pessoas com outras deficiências ou necessidades educacionais específicas, como dislexia, TDAH e outras. Elas não devem ser excluídas, mas sim complementadas com descrições de imagem que possam ser lidas por leitores de tela e compreendidas por pessoas que não conseguem ver as imagens.
Essa também é uma forma de eu mesma aprender mais sobre outras deficiências, outras necessidades e acessibilidade por um viés mais amplo diferente do meu como pessoa com deficiência visual.
Até por isso também queria que o projeto tivesse LIBRAS, Língua Brasileira de Sinais, para que as pessoas surdas pudessem ter acesso aos conteúdos de forma mais inclusiva e acessível para elas também. Como o projeto é solo, não tenho recursos para intérpretes de LIBRAS, mesmo sabendo que seria o ideal, a licença do Hand Talk (um tradutor de português para LIBRAS) é paga e oneraria o projeto, então por enquanto foquei no uso do VLibras, que é uma ferramenta gratuita e de código aberto. Também busco incluir as legendas nos vídeos e futuramente quem sabe conseguir uma parceria com algum projeto que possa me ajudar com a interpretação em LIBRAS com profissionais de fato.
É isso, assim o projeto foi tomando forma, e eu fui percebendo que poderia ser um espaço onde eu pudesse compartilhar tudo o que aprendi, tudo o que sei e tudo o que ainda quero aprender. Um lugar onde outras pessoas com deficiência pudessem encontrar apoio, recursos e meios para aprender ciências exatas e tecnológicas de forma acessível.
O que eu espero do projeto?
Depois de mudar de nome várias vezes, de ter várias ideias e de ter passado por muitas dificuldades, o projeto PcD na Escola finalmente tomou forma. Feito da maneira mais simples e barata que eu consegui, com Jekyll, GitHub Pages e um domínio pago, tudo que eu espero é que ele faça com que pelo menos uma pessoa no mundo não precise passar pelas mesmas dificuldades que eu para conseguir aprender ciências exatas e tecnológicas.
Quero através dele contar as minhas histórias na vida escolar e acadêmica, falar das pessoas boas que passaram pela minha vida e fazem parte do que sou hoje. Mas, falar também das pragas que encontrei pelo caminho, que são um desserviço para a educação e que não deveriam estar lá, mas estão.
Acima de tudo, espero que o projeto ajude outras pessoas com deficiência, famílias, professores e profissionais de acessibilidade a encontrarem eco nas minhas experiências e que possam se sentir representadas. Porque um sentimento ruim é o sentimento de solidão, de não pertencimento e de que você é a única pessoa no mundo que passa por aquilo.
Essa é minha forma de dizer que não, você não é a única pessoa que passa por isso, eu também passei e o “problema” não é você, mas sim o entorno, que por não estar preparado para lidar com a diversidade, acaba excluindo as pessoas com deficiência e culpabilizando elas por não conseguirem aprender.