Você já se perguntou o que é um programa de computador? Na prática, o termo mais utilizado é "software". Mas o que isso significa? Vamos explorar esses conceitos de forma simples.
Apresentação
Vamos começar com uma comparação bem fácil: imagine que um programa de computador é como uma receita de bolo. Para fazer o bolo dar certo, você precisa seguir todos os passos da receita: separar os ingredientes, misturar tudo direitinho e colocar no forno no tempo certo. Com o computador é parecido. Ele precisa de uma “receita” para saber o que fazer. E essa receita é o que chamamos de programa ou software.
Essas instruções que dizem ao computador o que fazer são chamadas de algoritmos. Um algoritmo é uma sequência de passos que resolve um problema ou faz uma tarefa. Por exemplo: pode ser um algoritmo que organiza uma lista de nomes em ordem alfabética ou que faz a soma de dois números.
Esses algoritmos são escritos em linguagens de programação, que são como idiomas próprios para conversar com o computador. Assim como o português tem regras e palavras, cada linguagem de programação também tem sua forma certa de escrever as instruções.
O que é um programa, afinal?
Um programa nada mais é do que um tipo de algoritmo feito especialmente para o computador. A diferença é que ele precisa ser escrito de um jeito que o processador do computador consiga entender. O processador, que é como o “cérebro” do computador, não entende nossa linguagem falada, só entende números. E mais especificamente, números bem simples: 0 e 1.
Por isso, mesmo que você veja fotos, ouça músicas, jogue ou escreva textos no computador, ele na verdade não entende o que essas coisas significam. Para ele, tudo é traduzido em sequências de zeros e uns, que representam se uma corrente elétrica está passando (1) ou não está (0). Ou seja, tudo o que aparece na tela, no fundo, é feito com eletricidade e matemática.
Mas como o computador transforma 0 e 1 em tudo isso?
Para entender isso, pense no corpo humano. Nossos olhos captam as imagens, mas é o cérebro que interpreta o que estamos vendo. Do mesmo jeito, o computador usa várias camadas de "tradução" para transformar os zeros e uns em imagens, sons, textos e tudo mais que usamos no dia a dia.
Essas “traduções” são feitas com a ajuda das linguagens de programação. Cada linguagem tem suas próprias regras e palavras, que ajudam a organizar os comandos para o computador. Assim, quando você escreve um programa em uma linguagem de programação, está criando uma receita que o computador pode seguir para fazer o que você quer.
Linguagens de Programação: A forma de escrever programas
Escrever tudo só com 0 e 1 seria muito difícil para nós, seres humanos, por isso, as linguagens de programação foram criadas em diferentes níveis, dependendo de quão próximas estão da linguagem humana. Ou seja, os diferentes níveis que as linguagens de programação podem estar são organizados de acordo com a nossa capacidade de entendê-las.
Esses níveis são chamados de níveis de abstração. Quanto mais alto o nível de abstração, mais fácil é escrever e entender o programa. Esses níveis se organizam da seguinte forma:
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Linguagem de máquina:
É a linguagem mais básica, feita só de 0 e 1. O processador entende diretamente, mas é impossível de nós seres humanos entendermos sem muito estudo. Na verdade, seria praticamente impossível programar diretamente nesse nível qualquer coisa complexa.
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Linguagem de baixo nível (Assembly):
Ainda está bem próxima da linguagem de máquina, mas já permite que a pessoa programadora use nomes e símbolos no lugar de números. Mesmo assim, ela exige bastante conhecimento da parte interna do computador.
Observação: Não confunda Assembly, que é a linguagem, com Assembler, que é o programa que faz a tradução de Assembly para linguagem de máquina.
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Linguagens de alto nível:
Essas são as mais parecidas com a forma como as pessoas se comunicam. A gente escreve os comandos como se estivesse escrevendo frases mais simples, e depois o computador “traduz” para a linguagem que ele entende. Exemplos: Python, Java, C, entre outras.
Como o computador entende essas linguagens?
Um programa escrito em uma linguagem de alto nível não funciona diretamente no computador. Ele precisa passar por um processo de tradução, feito por dois tipos de programas:
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Compilador:
Pega todo o código de uma vez e transforma em um programa que o computador consegue executar. Depois disso, dá para rodar o programa várias vezes sem precisar compilar de novo.
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Interpretador:
Vai lendo e executando o código linha por linha, em tempo real. Toda vez que o programa for usado, ele será interpretado de novo. A vantagem é que funciona em diferentes tipos de computadores, como Windows, Mac ou Linux, sem precisar reescrever tudo.
Essas traduções transformam o que escrevemos em código-fonte — o texto com as instruções — em comandos que o processador pode entender e executar.
Como os Softwares São Criados?
Para que um programa de computador funcione, é necessário usar a lógica de programação e linguagens de programação. Mas muita gente se pergunta: como esses programas são organizados? Como é possível criar coisas tão complexas como aplicativos de celular, sites ou sistemas inteiros? Afinal, como tudo isso é feito?
Para entender isso, primeiro precisamos conhecer dois conceitos importantes no mundo da programação: Back-end
e Front-end
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De onde tudo isso veio?
Antigamente, os programas de computador eram muito mais simples. Muitas vezes, uma única pessoa dava conta de desenvolver tudo sozinha. Isso porque os sistemas tinham menos funções e os computadores eram bem limitados — sem internet, sem gráficos avançados, e só existiam em empresas ou instituições. Ter um computador em casa era algo raro até os anos 80. Só a partir dos anos 90 os computadores começaram a se espalhar mais, e nos anos 2000 isso se tornou algo comum.
Com o tempo, mais pessoas passaram a usar computadores, e a internet se popularizou. Isso fez com que os softwares precisassem ficar mais completos, com mais funções, bonitos, rápidos e capazes de atender milhares ou até milhões de pessoas ao mesmo tempo. Ou seja, os programas começaram a ficar bem mais complexos.
Como os programas eram instalados antes?
Antes da internet se espalhar, o jeito de instalar programas era bem diferente do que conhecemos hoje. As empresas compravam CDs, DVDs ou disquetes que vinham com os programas. Esses discos eram comprados de empresas como Microsoft, IBM, Oracle ou SAP, e para instalar o programa no computador era preciso chamar um técnico especializado.
Esse processo era demorado, caro e manual. Tudo tinha que ser feito máquina por máquina. Depois que o software era instalado, ele costumava ficar assim por vários anos, com raras atualizações. Era um investimento alto, então os softwares eram feitos para durar bastante tempo, anos ou até mesmo décadas.
O que mudou com a chegada da internet?
Com a internet, tudo ficou muito mais rápido e prático. Os programas passaram a ser distribuídos e atualizados pela internet, sem precisar de CDs ou técnicos especializados. Isso facilitou muito o uso dos softwares e também permitiu que eles se tornassem mais dinâmicos: hoje, atualizações acontecem com frequência, e os próprios usuários conseguem baixar, instalar e atualizar aplicativos com poucos cliques.
Além disso, como os softwares passaram a ser usados por um número muito maior de pessoas — em diferentes lugares do mundo, ao mesmo tempo — eles precisaram ser divididos em partes, com equipes diferentes cuidando de cada aspecto. E é aí que entram os conceitos de front-end e back-end, que ajudam a organizar o trabalho de quem desenvolve os programas.
A Internet também mudou completamente como usamos os programas. Hoje é comum usar:
- Sites e aplicativos
- Redes sociais
- Jogos online
- Serviços de streaming (como ouvir músicas no Spotify ou ver filmes na Netflix)
- Ferramentas de produtividade (como Google Docs ou Microsoft Office Online)
Essas coisas eram quase impossíveis de imaginar há algumas décadas, mas agora fazem parte do nosso dia a dia.
Ou seja, a Internet não só facilitou o acesso aos programas, como também ampliou muito o que é possível fazer com eles.
Por Que o Desenvolvimento de Softwares Mudou Tanto?
Hoje em dia, o jeito de criar e manter programas de computador (softwares) é bem diferente de como era feito nas décadas de 1980 e 1990. Veja alguns motivos:
- As mudanças no mundo dos softwares acontecem muito mais rápido.
- O número de pessoas que usam programas aumentou demais.
- As pessoas agora também criam conteúdo nos programas (como em redes sociais ou no YouTube).
- Surgiram novos tipos de aparelhos e programas, como celulares (smartphones) e aplicações web (sites interativos, por exemplo).
Com tantas mudanças, ficou impossível fazer software do mesmo jeito que se fazia antigamente. Os programas de hoje são tão grandes e complexos que o trabalho precisa ser dividido em partes. E tem tanta coisa para fazer em cada parte que é possível seguir carreiras inteiras especializadas em só uma delas.
Essas partes que são o Back-end e o Front-end. Vamos entender o que isso significa.
O Que é Front-end?
O front-end é a parte do software que aparece para quem está usando. É tudo aquilo que a pessoa vê na tela: botões, menus, textos, imagens, cores, etc. É por meio do front-end que as pessoas interagem com o programa — seja clicando, digitando ou tocando na tela. Ele é responsável por mostrar as informações e mandar os comandos para o back-end.
Essa parte visual precisa ser bonita, fácil de usar e funcionar bem. Para isso, várias equipes trabalham juntas: pessoas que trabalham com design, programação, experiência do usuário (UX) e testes.
Exemplo prático: modernizando um aplicativo de banco
Imagine que o time de produto de um banco decide que o aplicativo precisa ficar mais moderno. As telas precisam ser mais bonitas e fáceis de usar. Eles então passam essa tarefa para o time de tecnologia, com prazos e objetivos. A partir daí, várias perguntas são feitas:
Perguntas feitas pelo time de design
- Por que os clientes estão insatisfeitos com o app? É algo nas telas de login, Pix ou transferência?
- Quais partes do app precisam de mais atenção para melhorar a experiência?
- Como será a nova navegação? Quais elementos visuais serão usados?
- As cores, os botões, os ícones e as fontes vão mudar? A marca do banco vai continuar igual?
Depois de analisar essas questões, o time de design cria protótipos — que são desenhos das telas do aplicativo. Esses protótipos mostram como será o app depois da mudança, e são feitos em ferramentas como Figma, Adobe XD ou Sketch. Servem para testar a ideia antes de começar a programar.
Perguntas feitas pelo time de programação front-end
Com os protótipos prontos, a equipe de programação do front-end começa a planejar como transformar isso em um aplicativo real. Algumas perguntas são:
- Que tecnologias serão usadas? Por exemplo: React Native, Flutter, Swift (para iPhone), Kotlin (para Android)...
- Como será a organização do código? Qual arquitetura será usada?
- Como o front-end vai conversar com o back-end? Quais APIs serão necessárias?
Depois disso, a equipe começa a programar as telas, conectar com o back-end e testar se tudo está funcionando. Esses testes são feitos tanto em celulares de verdade quanto em simuladores de celular no computador. Às vezes, existe uma equipe de qualidade (chamada QA do inglês "Quality Assurance" em português "Garantia de Qualidade") que faz esses testes.
O Que é Back-end?
Enquanto o front-end é a parte que aparece, o back-end é tudo o que acontece por trás, nos bastidores. É a parte que processa os dados, guarda as informações no banco de dados, cuida da segurança, e responde aos comandos enviados pelo front-end.
O back-end é responsável por fazer o programa funcionar de verdade. Ele recebe as solicitações do front-end, processa as informações e envia os resultados de volta. É como se fosse o cozinheiro que prepara a comida enquanto o garçom (front-end) serve aos clientes.
Voltando ao exemplo do aplicativo de banco
No exemplo do aplicativo de banco, para a modernização, já observamos o trabalho do time de design e do front-end. Agora, vamos ver como o back-end entra nessa história.
Perguntas feitas pelo time de back-end
- Como o back-end vai conversar com o front-end? Usando REST APIs, GraphQL ou outra tecnologia?
- Qual será a arquitetura do sistema? Será monolítica, microserviços ou serverless (sem servidor)?
- Qual linguagem de programação será usada? Python, Java, PHP, C#, Ruby, etc.?
- Qual banco de dados será usado? SQL (como MySQL, PostgreSQL) ou NoSQL (como MongoDB)?
- Como encriptar os dados sensíveis, como CPF ou outros dados pessoais?
- O front-end vai precisar de autenticação? Como será feito o login e a segurança?
- Como garantir que o sistema aguente muitos usuários ao mesmo tempo? Será necessário usar balanceamento de carga, cache ou outras técnicas?
- Como monitorar o desempenho do sistema? Será necessário usar ferramentas de monitoramento (como Prometheus, Grafana, etc.)?
- Como recuperar o sistema em caso de falha? Será necessário ter backups regulares e planos de recuperação?
- A equipe de back-end vai precisar de testes automatizados? Como garantir que o código esteja funcionando corretamente?
A equipe de back-end garante que tudo funcione corretamente: o app precisa responder rápido, guardar os dados com segurança e trabalhar bem junto com o front-end.
Uma pessoa até começa a usar um software atraída pelo seu front-end bonito, mas se o back-end não garantir a velocidade de respostas, a segurança dos dados, a estabilidade do sistema e a confiabilidade, a pessoa não vai ficar muito tempo usando o software.
Observação: Os nomes de tecnologias e padrões citados aqui são apenas exemplos. Não é necessário entender todos eles agora. O mais importante neste momento é entender como funciona o processo de desenvolvimento de um software, com todas as etapas e os profissionais envolvidos.
Realização de testes
Depois que o front-end e o back-end estão prontos, é hora de testar tudo. Isso é feito para garantir que o aplicativo funcione bem, seja rápido, seguro e fácil de usar. Os testes podem ser feitos por pessoas da equipe de qualidade (QA) ou até mesmo pelos próprios desenvolvedores.
O cenário ideal é que o time de QA faça testes manuais e automatizados, verificando se tudo está funcionando como deveria. Eles testam desde a usabilidade do aplicativo até a segurança dos dados, passando pela velocidade de resposta e a compatibilidade com diferentes dispositivos.
Não são todas as empresas que têm uma equipe de QA dedicada, e essa ausência muitas vezes se reflete na qualidade do software. A expertise em testes é fundamental para garantir que o software atenda às expectativas dos clientes e funcione corretamente em diferentes cenários.
As pessoas desenvolvedoras podem testar? Sim, mas se eu posso escolher a minha nota que nota eu me daria? A nota máxima, claro! Em outras palavras, se as pessoas desenvolvedoras fizerem os testes, elas podem acabar sendo tendenciosas e não perceber problemas que outras pessoas veriam facilmente. Isso não é "maldade", "sacanagem" ou "desleixo" da parte delas, é apenas uma limitação humana, viés e falta de tempo.
As vezes a pessoa desenvolvedora já entrou tanto em contato com o software que não percebe mais os problemas que outras pessoas veriam facilmente. Por isso, é importante ter uma equipe de QA dedicada, que possa olhar para o software com um olhar fresco e crítico.
Após essas explicações, vamos observar quais perguntas seriam feitas por uma equipe de QA antes de começar a testar o software.
Perguntas feitas pelo time de QA
- O aplicativo é fácil de usar? As pessoas conseguem navegar pelas telas sem dificuldades?
- As informações estão corretas? Não há erros de digitação ou dados faltando?
- O aplicativo é rápido? As telas carregam rapidamente e as ações são executadas sem demora?
- O aplicativo é seguro? Os dados pessoais estão protegidos e não há riscos de vazamento de informações?
- O aplicativo funciona bem em diferentes dispositivos e sistemas operacionais? Ele é compatível com Android, iOS, Windows, etc.?
- O aplicativo é acessível? Pessoas com deficiência conseguem usar o app sem dificuldades?
- O aplicativo é responsivo? Ele se adapta bem a diferentes tamanhos de tela, como celulares, tablets e computadores?
- O aplicativo é estável? Ele não trava ou apresenta erros frequentes?
- O aplicativo é escalável? Ele consegue suportar um grande número de usuários ao mesmo tempo sem perder desempenho?
- O aplicativo é fácil de manter? O código é bem organizado e documentado, facilitando futuras atualizações e correções?
Resumo
Resumindo de forma clara, o processo de desenvolvimento de um software costuma seguir este caminho:
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O time de produtos identifica uma necessidade ou ideia e define o que precisa ser feito.
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O time de design transforma essa ideia em protótipos, que são modelos visuais de como o software vai ficar.
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O time de programação front-end pega esses protótipos e os transforma em código, criando as telas e interações visíveis para as pessoas usuárias.
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O time de programação back-end garante que o sistema esteja funcionando por trás das telas, cuidando dos dados, das regras de funcionamento e da comunicação com o banco de dados.
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O time de testes verifica se tudo está funcionando corretamente: se o aplicativo é fácil de usar, rápido, seguro e acessível.
Vimos também que um software que tem só o front-end, sem o back-end, é como um carro sem motor. Pode até ser bonito, com bancos confortáveis e painel moderno, mas não vai sair do lugar.
Todo o fluxo de criação — desde a ideia inicial até os testes e a integração entre as partes — é essencial para que o software funcione bem. O front-end e o back-end não são partes separadas, eles trabalham juntos como um time só, cada um com suas responsabilidades.
Muitas pessoas não sabem que existe todo esse trabalho por trás de um aplicativo ou site, mas cada uma dessas etapas é importante para garantir que:
- O software atenda às necessidades dos clientes;
- Funcione corretamente em diferentes dispositivos;
- Seja seguro e confiável;
- Ofereça uma boa experiência de uso.
Espero que este artigo tenha ajudado a entender melhor o que é um programa de computador, como ele funciona e como as diferentes partes se conectam para criar um software completo. Apesar de muita coisa ter sido simplificada, o objetivo é fornecer uma visão geral acessível e clara sobre o desenvolvimento de software.